O Impeachment de Rosane

Postado por Administração ··· Collor às 11:11

Em março de 1990, Rosane, aos 24 anos de idade, tornou-se primeira-dama do Brasil. Confira a entrevista à revista "Marie Claire", publicada em 1999:

 
 

 
 


 




 

Marie Claire - Como foi acordar em Miami, depois do impeachment, sem Macéio, Canapi, Brasília...
Rosane Collor -
Foi maravilhoso. Foi um crescimento, que já começou antes de ir para Miami. Na época do impeachment, falei: ou sigo o exemplo de algumas amigas e entro em depressão, ou dou a volta por cima. Como não nasci para ficar reclamando, resolvi dar uma guinada.


 

MC - Você é uma nova Rosane?
Rosane -
É assim que me sinto. Estou numa fase muito legal da minha vida. O mais importante é você estar bem consigo mesma. Se consegue esse equilíbrio -e eu consegui-, as outras coisas vêm. Nesses quatro anos em Miami, consegui buscar o meu eu e me descobrir.


 

MC - Você fez algum tipo de terapia?
Rosane -
Nunca fiz terapia. E não sei o que é a palavra depressão, juro por Deus!


 

MC - Mesmo naqueles dias terríveis, com choro na igreja e tudo?
Rosane -
Foram momentos de tristeza. Isso é uma coisa, depressão é outra. Eu nunca tive! O Fernando conta isso no primeiro capítulo do livro dele, onde diz que, se não fosse eu para lhe dar força, ele teria tido uma atitude meio drástica.


 

MC - Olhando o conforto dessas casas e a boa vida de vocês, a pergunta é inevitável: por que começar novamente essa insana corrida política?
Rosane -
Essa pergunta já fiz várias vezes ao Fernando. Mas ele me falou que política é como o ar que ele respira. Dinheiro, sinceramente, ele não precisa. Tem as organizações Arnon de Mello [canal de TV, três emissoras de rádio e o maior jornal de Alagoas], tem o patrimônio que os pais deixaram...


 

MC - Vocês viajaram muito nesse período?
Rosane -
Taiti, Aspen, fomos às Bahamas, a gente esquiava todo fim de ano em Courchevel, passeamos pela Europa, Estados Unidos, aproveitei bastante.


 

MC - Se pudesse escolher, entraria numa nova balada?
Rosane -
Não. Mas é aquela coisa, quando você casa com um político tem de ter discernimento e saber onde está entrando.


 

MC - Quer dizer que você entrou consciente.
Rosane -
Olha, consciente, consciente, você não entra porque não sabe o que pode acontecer. Mas quando está apaixonada, não raciocina. É o mal das mulheres.


 

MC - Seus pais não queriam o casamento?
Rosane -
De jeito nenhum. "Um cara divorciado, com dois filhos. O que é isso? Vai manchar o meu nome." Eu era a filhinha, com 19 anos de idade.


 

MC - O que eles desejavam para você?
Rosane -
Meu pai sempre desejou que os filhos fossem felizes. Não importa a situação financeira. Apesar de a minha família sempre ter tido uma boa situação financeira, pois os meus avós eram muito ricos. Tanto que, aqui em Alagoas, os municípios de Canapi, Inhapi e Mata Grande foram fundados por meu avô paterno. Chegou a um ponto que a cidade de Canapi, nesse interior onde eu nasci, era do meu pai e do meu avô.


 

MC - O fato de ter sido criada em Canapi, habituada à cozinha do interior nordestino, e depois ter de lidar com lagostas e bebidas importadas nos jantares de cerimônia, criou constrangimentos?
Rosane -
Nada, nada, nada.


 

MC - Nenhuma gafe? Dizem que a Princesa Diana perguntou se você falava inglês e você disse: "A short..."
Rosane -
Não, nunca! Isso é invenção. As pessoas pensam que, porque nasci em Canapi, minha educação foi provinciana, que eu não sabia pegar em garfo e faca, isso não existe! Estudei em colégio de freiras e moro em Maceió desde os meus 10 anos de idade. Fui preparada aqui. Sempre soube como se come ou como não se come. E quando não sabia, meu Deus, a coisa mais fácil é olhar para o lado. Nunca passei aperto.


 

MC - Você já foi chamada de a "Cinderela de Canapi". Casou virgem aos 19 anos, foi primeira dama do Estado aos 23 e, do país, aos 25. Sua vida pode ser comparada a um triller de alta tensão, não?
Rosane -
Ah, foi muita tensão. Até o governo de Alagoas, Fernando era uma pessoa que trabalhava e tudo, mas nós éramos juntos. Aí teve a campanha e a gente ali, de manhã, de tarde e de noite, juntos. Quando chega na época da presidência, não tenho mais marido.


 

MC - O que provocou a ruptura entre você e Fernando?
Rosane -
Foram três motivos. Primeiro, a questão de o Fernando estar acostumado a ter a mulher 24 horas à disposição e, com meu trabalho, ele não me tinha mais; o segundo ponto foi a questão da minha família, a coisa do Joãozinho, que teve um incidente com o prefeito de Canapi, em 1991. As pessoas começaram a influenciar negativamente o Fernando contra mim, falando coisas do tipo: "Ela só te dá problemas, olha isso!" E a terceira coisa foi a questão da LBA.


 

MC - Você estava deslumbrada com o poder?
Rosane -
Não, não com o poder. Eu talvez estivesse deslumbrada com o trabalho que estava desenvolvendo. Foi muito forte para mim ter a oportunidade de visitar aqueles municípios pobres e ter contato com as pessoas. Acho que aí entra a minha veia política, sabe? Eu gostava daquilo. Esqueci um pouco o meu lado mulher, o meu lado carinhoso com o Fernando. E as pessoas começaram a dizer: "A Rosane está crescendo muito, está se sobressaindo, todo dia está nos jornais". E os artistas ligando, a Xuxa, Angélica, os Trapalhões, Lúcia Veríssimo, Alexandre Frota... Todos eles tinham aquela rejeição pelo Fernando, mas faziam campanha comigo. Então acho que foi um dos problemas também.


 

MC - Com quem você não entraria no elevador?
Rosane -
Ah, meu Deus do céu! Vou falar a verdade. Só tem uma pessoa que eu não gostaria de entrar em lugar nenhum: é Thereza Collor. Não desejo mal e jamais falei dessa pessoa.


 

MC - Você não consegue perdoá-la?
Rosane -
Não é perdoar. Quem sou eu para perdoar quem quer que seja? Mas é uma pessoa que eu não gosto de falar. Quando não gosto de uma pessoa, a melhor coisa a fazer é não lembrar, fazer de conta que não existe. Porque aí você não sofre, não guarda rancor. Ela vive a vida dela, eu, a minha, não me preocupo com o que ela faz ou deixa de fazer.


 

MC - Como você vê a atitude do Pedro?
Rosane -
Não acho que ele foi o grande responsável.


 

MC - Não?
Rosane -
Acho que numa fase da vida dele, Pedro foi, sim, responsável. Mas ele quis pedir perdão ao irmão quando estava no leito de morte. O Fernando se preparou para ir a Nova York. Mas ela não deixou. Fizemos de tudo para que os irmãos pudessem se perdoar, mas ela não permitiu. Acho uma coisa muito forte...


 

MC - E ele morreu...
Rosane -
Foi triste, não foi? A gente pode fugir da justiça de todos, mas Deus não permite que a maldade prevaleça.


 

MC - Por que Pedro escolheu aquela hora para fazer suas denúncias?
Rosane -
O Paulo César [o PC Farias] estava abrindo um jornal [que seria concorrente do jornal da família em Alagoas] e Pedro achava que o Fernando tinha que impedir que PC abrisse...


 

MC - Justiça seja feita, você não gostava do PC.
Rosane -
Não gostava.


 

MC - PC disse à sua tia que era ele quem pagava suas contas?
Rosane -
"Ô xente! E desde quando é que Paulo César está pagando as minhas contas?" Perguntei para os dois, Fernando disse que era mentira e Paulo César falou que nunca tinha dito isso. Mas não foi por causa disso que eu discuti com o PC, não. Eu disse para o Fernando que tinha ouvido uns comentários de que o PC estava interferindo em algumas áreas e que estavam comentando. Aí o PC falou: "Ah, se tudo que comentarem for verdade..." E Fernando disse: "Ah, é mentira! Inventam tudo!"


 

MC - Como você vê o PC na vida do seu marido?
Rosane -
Paulo César foi uma pessoa que ajudou Fernando na parte de arrecadar recursos para a campanha dele.


 

MC - Mas continuou arrecadando e não parou ...
Rosane -
Não continuou não, gente. Loucura! Depois Fernando mal tinha contato com Paulo César, mal via o PC.


 

MC - E os cheques fantasmas ?
Rosane -
Ah, isso eu não sei. Dessa parte eu não sei de nada. Não sei como ficou a situação de Paulo César. Sei que a Justiça inocentou Fernando de todas as acusações que fizeram contra ele. Ele ganhou no Supremo Tribunal Federal por cinco votos contra três. Então as pessoas têm de aceitar que a verdade é a verdade. Ela é pura e cristalina.


 

MC - A verdade tem muitos lados.
Rosane -
Tudo o que estou dizendo é a pura verdade. Estou abrindo meu coração. Passei sete anos sem abrir a boca, de tanto pavor. Você pode ver que não tem em nenhum jornal, nem fora do país. Eu me negava. Abri uma exceção no aniversário de Fernando, por livre e espontânea pressão, porque ele me pediu para fazer. Mas já aviso, essa é a primeira e última entrevista em que falo desses assuntos. Nas próximas, só falo da vida pós- impeachment.


 

MC - De volta para o inferno.
Rosane -
É terrível. Não agüento mais tocar nesses assuntos. É triste, viu. Gente, o passado passou, acabou. E uma nova vida está surgindo.


 


Rosane e Fernando Collor


 

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