Em março de 1990, Rosane, aos 24 anos de idade, tornou-se primeira-dama do Brasil. Confira a entrevista à revista "Marie Claire", publicada em 1999: Marie Claire - Como foi acordar em Miami, depois do impeachment, sem Macéio, Canapi, Brasília... MC - Você é uma nova Rosane? MC - Você fez algum tipo de terapia? MC - Mesmo naqueles dias terríveis, com choro na igreja e tudo? MC - Olhando o conforto dessas casas e a boa vida de vocês, a pergunta é inevitável: por que começar novamente essa insana corrida política? MC - Vocês viajaram muito nesse período? MC - Se pudesse escolher, entraria numa nova balada? MC - Quer dizer que você entrou consciente. MC - Seus pais não queriam o casamento? MC - O que eles desejavam para você? MC - O fato de ter sido criada em Canapi, habituada à cozinha do interior nordestino, e depois ter de lidar com lagostas e bebidas importadas nos jantares de cerimônia, criou constrangimentos? MC - Nenhuma gafe? Dizem que a Princesa Diana perguntou se você falava inglês e você disse: "A short..." MC - Você já foi chamada de a "Cinderela de Canapi". Casou virgem aos 19 anos, foi primeira dama do Estado aos 23 e, do país, aos 25. Sua vida pode ser comparada a um triller de alta tensão, não? MC - O que provocou a ruptura entre você e Fernando? MC - Você estava deslumbrada com o poder? MC - Com quem você não entraria no elevador? MC - Você não consegue perdoá-la? MC - Como você vê a atitude do Pedro? MC - Não? MC - E ele morreu... MC - Por que Pedro escolheu aquela hora para fazer suas denúncias? MC - Justiça seja feita, você não gostava do PC. MC - PC disse à sua tia que era ele quem pagava suas contas? MC - Como você vê o PC na vida do seu marido? MC - Mas continuou arrecadando e não parou ... MC - E os cheques fantasmas ? MC - A verdade tem muitos lados. MC - De volta para o inferno.
Rosane Collor - Foi maravilhoso. Foi um crescimento, que já começou antes de ir para Miami. Na época do impeachment, falei: ou sigo o exemplo de algumas amigas e entro em depressão, ou dou a volta por cima. Como não nasci para ficar reclamando, resolvi dar uma guinada.
Rosane - É assim que me sinto. Estou numa fase muito legal da minha vida. O mais importante é você estar bem consigo mesma. Se consegue esse equilíbrio -e eu consegui-, as outras coisas vêm. Nesses quatro anos em Miami, consegui buscar o meu eu e me descobrir.
Rosane - Nunca fiz terapia. E não sei o que é a palavra depressão, juro por Deus!
Rosane - Foram momentos de tristeza. Isso é uma coisa, depressão é outra. Eu nunca tive! O Fernando conta isso no primeiro capítulo do livro dele, onde diz que, se não fosse eu para lhe dar força, ele teria tido uma atitude meio drástica.
Rosane - Essa pergunta já fiz várias vezes ao Fernando. Mas ele me falou que política é como o ar que ele respira. Dinheiro, sinceramente, ele não precisa. Tem as organizações Arnon de Mello [canal de TV, três emissoras de rádio e o maior jornal de Alagoas], tem o patrimônio que os pais deixaram...
Rosane - Taiti, Aspen, fomos às Bahamas, a gente esquiava todo fim de ano em Courchevel, passeamos pela Europa, Estados Unidos, aproveitei bastante.
Rosane - Não. Mas é aquela coisa, quando você casa com um político tem de ter discernimento e saber onde está entrando.
Rosane - Olha, consciente, consciente, você não entra porque não sabe o que pode acontecer. Mas quando está apaixonada, não raciocina. É o mal das mulheres.
Rosane - De jeito nenhum. "Um cara divorciado, com dois filhos. O que é isso? Vai manchar o meu nome." Eu era a filhinha, com 19 anos de idade.
Rosane - Meu pai sempre desejou que os filhos fossem felizes. Não importa a situação financeira. Apesar de a minha família sempre ter tido uma boa situação financeira, pois os meus avós eram muito ricos. Tanto que, aqui em Alagoas, os municípios de Canapi, Inhapi e Mata Grande foram fundados por meu avô paterno. Chegou a um ponto que a cidade de Canapi, nesse interior onde eu nasci, era do meu pai e do meu avô.
Rosane - Nada, nada, nada.
Rosane - Não, nunca! Isso é invenção. As pessoas pensam que, porque nasci em Canapi, minha educação foi provinciana, que eu não sabia pegar em garfo e faca, isso não existe! Estudei em colégio de freiras e moro em Maceió desde os meus 10 anos de idade. Fui preparada aqui. Sempre soube como se come ou como não se come. E quando não sabia, meu Deus, a coisa mais fácil é olhar para o lado. Nunca passei aperto.
Rosane - Ah, foi muita tensão. Até o governo de Alagoas, Fernando era uma pessoa que trabalhava e tudo, mas nós éramos juntos. Aí teve a campanha e a gente ali, de manhã, de tarde e de noite, juntos. Quando chega na época da presidência, não tenho mais marido.
Rosane - Foram três motivos. Primeiro, a questão de o Fernando estar acostumado a ter a mulher 24 horas à disposição e, com meu trabalho, ele não me tinha mais; o segundo ponto foi a questão da minha família, a coisa do Joãozinho, que teve um incidente com o prefeito de Canapi, em 1991. As pessoas começaram a influenciar negativamente o Fernando contra mim, falando coisas do tipo: "Ela só te dá problemas, olha isso!" E a terceira coisa foi a questão da LBA.
Rosane - Não, não com o poder. Eu talvez estivesse deslumbrada com o trabalho que estava desenvolvendo. Foi muito forte para mim ter a oportunidade de visitar aqueles municípios pobres e ter contato com as pessoas. Acho que aí entra a minha veia política, sabe? Eu gostava daquilo. Esqueci um pouco o meu lado mulher, o meu lado carinhoso com o Fernando. E as pessoas começaram a dizer: "A Rosane está crescendo muito, está se sobressaindo, todo dia está nos jornais". E os artistas ligando, a Xuxa, Angélica, os Trapalhões, Lúcia Veríssimo, Alexandre Frota... Todos eles tinham aquela rejeição pelo Fernando, mas faziam campanha comigo. Então acho que foi um dos problemas também.
Rosane - Ah, meu Deus do céu! Vou falar a verdade. Só tem uma pessoa que eu não gostaria de entrar em lugar nenhum: é Thereza Collor. Não desejo mal e jamais falei dessa pessoa.
Rosane - Não é perdoar. Quem sou eu para perdoar quem quer que seja? Mas é uma pessoa que eu não gosto de falar. Quando não gosto de uma pessoa, a melhor coisa a fazer é não lembrar, fazer de conta que não existe. Porque aí você não sofre, não guarda rancor. Ela vive a vida dela, eu, a minha, não me preocupo com o que ela faz ou deixa de fazer.
Rosane - Não acho que ele foi o grande responsável.
Rosane - Acho que numa fase da vida dele, Pedro foi, sim, responsável. Mas ele quis pedir perdão ao irmão quando estava no leito de morte. O Fernando se preparou para ir a Nova York. Mas ela não deixou. Fizemos de tudo para que os irmãos pudessem se perdoar, mas ela não permitiu. Acho uma coisa muito forte...
Rosane - Foi triste, não foi? A gente pode fugir da justiça de todos, mas Deus não permite que a maldade prevaleça.
Rosane - O Paulo César [o PC Farias] estava abrindo um jornal [que seria concorrente do jornal da família em Alagoas] e Pedro achava que o Fernando tinha que impedir que PC abrisse...
Rosane - Não gostava.
Rosane - "Ô xente! E desde quando é que Paulo César está pagando as minhas contas?" Perguntei para os dois, Fernando disse que era mentira e Paulo César falou que nunca tinha dito isso. Mas não foi por causa disso que eu discuti com o PC, não. Eu disse para o Fernando que tinha ouvido uns comentários de que o PC estava interferindo em algumas áreas e que estavam comentando. Aí o PC falou: "Ah, se tudo que comentarem for verdade..." E Fernando disse: "Ah, é mentira! Inventam tudo!"
Rosane - Paulo César foi uma pessoa que ajudou Fernando na parte de arrecadar recursos para a campanha dele.
Rosane - Não continuou não, gente. Loucura! Depois Fernando mal tinha contato com Paulo César, mal via o PC.
Rosane - Ah, isso eu não sei. Dessa parte eu não sei de nada. Não sei como ficou a situação de Paulo César. Sei que a Justiça inocentou Fernando de todas as acusações que fizeram contra ele. Ele ganhou no Supremo Tribunal Federal por cinco votos contra três. Então as pessoas têm de aceitar que a verdade é a verdade. Ela é pura e cristalina.
Rosane - Tudo o que estou dizendo é a pura verdade. Estou abrindo meu coração. Passei sete anos sem abrir a boca, de tanto pavor. Você pode ver que não tem em nenhum jornal, nem fora do país. Eu me negava. Abri uma exceção no aniversário de Fernando, por livre e espontânea pressão, porque ele me pediu para fazer. Mas já aviso, essa é a primeira e última entrevista em que falo desses assuntos. Nas próximas, só falo da vida pós- impeachment.
Rosane - É terrível. Não agüento mais tocar nesses assuntos. É triste, viu. Gente, o passado passou, acabou. E uma nova vida está surgindo.
Rosane e Fernando Collor
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