Conheça a novela/minissérie real da TV Manchete que foi censurada pelo próprio presidente horas antes da estreia.
Dia 26 de julho de 1993 era pra ter sido um dia marcante para a história da teledramaturgia: entraria no ar a novela "O Marajá", escrita por José Louzeiro, Regina Braga, Eloy Santos e Alexandre Lydia e que retrataria a trajetória política do presidente Fernando Collor. Mas, a estreia nunca aconteceu. Censurada pelo próprio presidente, a novela jamais foi ao ar e frustrou milhões de telespectadores. Os trechos abaixos foram retirados do site Teledramaturgia e as fotos do site Rede Manchete.
"Elle" e "Ella", protagonistas da novela
Minissérie da Manchete que contava, em tom de sátira, como foi o impeachment do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello, que acontecera um ano antes, em agosto de 1992. Proibida de ir ao ar pelo próprio presidente, que se sentiu ofendido pelo texto, as fitas "sumiram" da emissora.
Cada personagem aludia a um personagem da vida real: André (Alexandre Borges) ao piloto de P.C. Farias, Jorge Bandeira; o motorista (José Dumont) ao motorista de Collor, Eriberto França; Felícia (Jussara Freire) à Denilma Bulhões, ex-mulher do ex-governador de Alagoas; a "certa atriz de coxas grossas" (Lúcia Canário) à atriz Cláudia Raia, que apoiou ostensivamente Collor em 1989. O próprio "Plano 2020" era uma referência ao "Plano 2000" que pretendia manter Collor no poder por mais 5 anos (na minissérie são 30 anos).
Prevendo que haveria processos por parte de Collor, Adolpho Bloch, o presidente da Manchete, contratou uma advogada para auxiliar os autores José Louzeiro, Regina Braga e Alexandre Lydia na tarefa de escrever a história, evitando complicações com a Justiça. Assim, Collor virou Elle. O personagem é o presidente de um país fictício que arma um esquema para se manter no poder por 30 anos. "Era um conceito revolucionário. Uma mistura de jornalismo com dramaturgia. Apresentávamos uma cena inacreditável e depois provávamos a veracidade com um depoimento", diz Louzeiro.
Mesmo com todo o cuidado e auxílio jurídico, a estréia, marcada para 26 de julho de 1993, não aconteceu. O Marajá foi proibida. O ex-presidente alegou que considerava sua honra arranhada pelas cenas da minissérie. Após meses e uma guerra de liminares, uma decisão judicial favorável a Collor selou o destino da obra. "A história toda nos mostrou que, mesmo depois do impeachment, Collor ainda tem poder, já que foi capaz de censurar uma obra antes de ela ser exibida", lamentou Alexandre Lydia, um dos roteiristas.
Há, até aqui, somente uma pista do paradeiro das fitas. O ex-diretor-geral da Manchete, Fernando Barbosa Lima, afirma que o próprio Adolpho Bloch decidiu guardar as fitas, com medo que elas fossem roubadas, e a Manchete, prejudicada. "Ele ficou assustado com o poder de Collor", conta Barbosa Lima, que era amigo de Bloch.
A história é contada por um narrador, um repentista e uma fofoqueira, na tentativa de se comunicar com públicos diferentes. O resultado é confuso. São idas e vindas entre depoimentos jornalísticos, dramaturgia e os narradores. Embora centrada em Elle, a protagonista de O Marajá é a jornalista Mariana (Júlia Lemmertz).
No dia em que O Marajá estrearia, autores, diretores e atores se reuniram num jantar, no prédio da Manchete, no Rio, para esperar juntos, a hora em que o capítulo iria ao ar. Ficaram surpresos com a proibição da exibição da obra.
Júlia Lemmertz disse que viveu na época das gravações de O Marajá uma situação kafkiana. "Nós fomos a sessões em que o direito de exibição da novela ia ser julgado e víamos aqueles homens de toga, debatendo, sem que pudéssemos dizer nada. Me senti em plena ditadura", conta. "Foi muito frustrante, porque a defesa da Manchete foi malfeita e, quando eu aceitei o papel, me disseram que a emissora estava calçada juridicamente".
Outro adjetivo veio à mente de Regina Braga, que ajudou José Louzeiro a escrever os primeiros cinco capítulos. "Estou perplexa. A proibição da novela foi uma violência à liberdade de expressão, mas essa história do desaparecimento das fitas foi demais", disse, sem esconder a surpresa. Alexandre Lydia, outro dos autores, ficou decepcionado. "Esse desaparecimento combina com toda a história da proibição da minissérie, que foi muito estranha", afirma. "É um trabalho enorme que fizemos com o maior empenho e nunca foi mostrado", completa.
Marcos Schechtmann, o diretor da minissérie, envolveu-se muito com o projeto na época. "Fomos censurados sem que ninguém visse os capítulos gravados ou escritos", diz. "É óbvio que eu gostaria de ver a minissérie exibida um dia, mas agora é passado, já consegui aceitar".
O ator Hélcio Magalhães, que fez Elle, a sátira de Collor, não escondeu a decepção. "Foi um trabalho de composição minucioso que eu fiz e que ninguém teve a oportunidade de ver".
Hélcio Magalhães é "Elle"
JÚLIA LEMMERTZ - Mariana
ALEXANDRE BORGES - André
HÉLCIO MAGALHÃES - Elle
VÂNIA BELLAS - Ella
WÁLTER FRANCIS - PC
ANTÔNIO PETRIN - Dr. Paulo
JUSSARA FREIRE - Felícia
ANTÔNIO PITANGA - Tato
JOSÉ DUMONT - Egberto (motorista)
LÚCIA ALVES - Gilda
IRACEMA STARLING - Adriana
RÚBENS CORREA - Carlos Alberto
ROGÉRIO FRÓES - Osório
IVAN SETTA - Lucio C. Vulgo
ÂNGELA LEAL - fofoqueira
LÚCIA CANÁRIO - "certa atriz de coxas grossas"
LUIZ ARMANDO QUEIRÓZ - narrador
Trechos da abertura
Trechos da abertura
Trechos da abertura
Matéria da revista "Amiga" (1993)
Cenas da novela
Cenas da novela
Cenas da novela
Cenas da novela
Cenas da novela
Cenas da novela
Cenas da novela
Discurso do ex-presidente sobre a censura
Divulgação da novela
A minissérie começa com a posse de Elle, como os figurões se referem ao presidente, em 1990. No dia seguinte, a jornalista Mariana sofre o primeiro golpe: suas economias são bloqueadas. A repórter arrisca um palpite: "Esse cara não vai dar certo...".
Mariana namora André, que esconde dela sua profissão de piloto particular do doutor Paulo. A mentira dura até o dia que Mariana encontra André na festa do poderoso. André disfarça seguindo até ali porque sentia ciúmes dela. Ao ver as fotos da festa, Mariana flagra André num papo descontraído com Felícia, que ensina a primeira dama, Ella, a se comportar adequadamente no high-society. Na mesma festa, Mariana, que trabalha para a TV Candango, ouve no banheiro conversas sobre o "Plano 2020" e começa a investigá-lo, descobrindo que Elle pretende governar o país por 30 anos. O chefe de Mariana é então chantageado e a demite da emissora. Ela se junta ao fotógrafo Tato, que tem fotos comprometedoras, e ao motorista de Elle, que leva cheques fantasmas e decide desmascarar o chefe.
Os três se metem no submundo da política, passando a ser perseguidos e ameaçados ao tentar provar a culpa de Elle e denunciar o esquema.
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